Todas as noites, o cristão-novo Simão Pires de Solis, cavalgava até ao Convento de Santa Clara, em Lisboa, para aí se encontrar clandestinamente com a jovem noviça Violante. Esta tinha sido forçada a recolhimento conventual, devido a seu pai, fidalgo que não via com bons olhos este amor entre os dois.Certo dia, Simão pede a Violante para ambos fugirem, dando-lhe um prazo de 24 horas para decidir. O que realmente sucede na noite seguinte, é a prisão de Simão, acusado de furtar relíquias religiosas da igreja de Santa Engrácia, onde recentemente se tinham iniciado as primeiras obras para a sua construção.Simão diz-se inocente, protege acima de tudo o bom nome da sua apaixonada, perante as graves acusações de que alguém o viu no local do crime.
Condenado à fogueira, cortam-lhe primeiro as mãos, e quando as chamas já o envolviam, terá gritado a célebre maldição. ” É tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem… “. Suas cinzas terão sido depois lançadas ao rio.Anos mais tarde, um homem pede a presença da
freira Violante, confessando-lhe que teria sido ele e não Simão Pires, o autor desse hediondo crime e, como sabia do relacionamento entre os dois, incriminou o cristão-novo para salvar a sua pele, agora, pedia perdão em seus últimos momentos de vida.
Violante concede ao moribundo o perdão.Este episódio do furto, ficou registado como tendo acontecido a 15 de janeiro de 1630, enquanto que a execução da sentença foi a 3 de fevereiro de 1631. Foi um dos juízes do caso, o Dr. Gabriel Pereira de Castro, também ele um pretendente de Violante, o que demonstra desde já a farsa que envolveu toda esta condenação.Simão era um homem com um feitio arrebatado, e sendo cristão-novo, tudo se conjugou para este desfecho mais do que óbvio.(Assim surgiu o ditado das “obras de santa engrácia”, como qualquer coisa que não tem fim. Embora em 1682 se tenha iniciado com alguma resolução as obras, estas tinham de facto tido as primeiras diligências em 1631/32. Foram dadas por concluídas em 1966).