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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Dona Gracia Nasi (1510-1568), Mulher Marrana e Portuguesa AMSDJU

Nascida no seio de uma rica família de marranos em Portugal em 1510, Gracia era conhecida por seu nome cristão, Betriz de Luna. O nome de sua irmã era Reina, batizada Brianda. Seu irmão Agostinho Miguel Nasi , era médico da corte e catedrático de medicina da Universidade de Lisboa, morreu em 1525 e Gracia assume a responsabilidade de criar os filhos de seu irmão, João (José) e Agostinho (Samuel).

Possuidora de um vasto e complexo império comercial e financeiro na Europa, administrou-o, preservando-o e ampliando a sua fortuna, apesar dos esforços de reis e outros dirigentes para afastá-la de seu patrimônio.

Señora Gracia salvou centenas de marranos da morte e das perseguições. Apesar de seus esforços para estabilizar a economia e a política da comunidade judaica, fracassou. Mesmo assim, foi uma mulher à frente de seu tempo. Tentou agir contra o anti-semitismo, impondo um boicote econômico. Tentou construir uma pátria judaica na Palestina, tendo Tiberíades como base.

A señora, a dama, Ha-geveret – em hebraico – marcou de uma maneira indelével a cultura judaica. Sua lembrança foi perpetuada através das inúmeras sinagogas que têm o seu nome, entre elas, uma em Esmirna, El Kal de la Señora, sinagoga que foi muito freqüentada até 1970, sendo gradativamente abandonada até se tornar um galinheiro.

Assim como os outros marranos os Nasi viviam como cristãos devotos em público e praticavam secretamente o judaísmo.
Com 18 anos de idade, Gracia contraiu nupcias com Francisco Mundes, marrano e próspero baqueiro.

Ele e seu irmão Diego, que administrava os negócios em Antuérpia, ajudavam marranos perseguidos pela inquisição a escapar utilizando-se de suas empresas e império financeiro.
Quando a inquisição chegou a Portugal em 1536, Francisco se preparou para unir-se a seu irmão em Antuérpia, porém ficou doente e morreu antes de poder realizar seu plano.
Gracia Nasi Mendes, tinha então 26 anos quando juntamente com sua filha pequena, Reina a jovem, enterrou o seu esposo como cristão e abandonou Lisboa.
Embarcaram além de Gracia e sua filha, sua irmã Reina seus sobrinhos José e Samuel em um dos navios mercantis dos Mendes rumo a Londres, levando a bordo todos os seus pertences.
De Londres a família viajou para os Países Baixos atravessando as rotas ideais para os marranos. Chegaram a salvo em Antuérpia, onde Gracia se uniu com seu cunhado Diego como sócia plena nos negócios, enquanto que sua irmã Reina tornou-se sua esposa. Reina e Diego tiveram uma filha a quem chamaram Gracia a Jovem, pois Gracia e Francisco haviam dado a sua filha o nome Reina a Jovem, em honra a tia.

Durante seis anos, Gracia participou da sociedade aristocrática e do mundo de negócios de Antuérpia e com seu cunhado continuaram ajudando marranos a fugir de Portugal.

Em 1544, quando Reina, a formosa e abastada filha de Gracia tinha 14 anos, foi pedida em casamento pelo ancião Don Francisco de Aragão, nobre católico e membro da realeza. Gracia estava decidida que sua filha se casaria com um judeu.

Em Veneza, Gracia foi denunciada como judaizante por sua irmã Reina, quem esperava obter o controle da riqueza da família. Gracia foi sumariamente detida e enviada a prisão, e suas propriedades foram embargadas. Reina também foi denunciada por um agente francês da empresa dos Mendes a quem ela havia subornado, e as jovens Reina e Gracia, foram enviadas a um converto. Uma vez mais, José empregou seus notáveis habilidades diplomáticas para conseguir que o sultão turco exija a libertação de Gracia.
Reconciliada com sua irmã e com suas filhas novamente sob sua custódia, a família se mudou para Ferrara. Nesta cidade em 1550, Gracia se despojou de sua identidade cristã e confessou abertamente seu judaísmo. A partir desse momento foi conhecida como Dona Gracia Nasi, em vez de Beatriz de Luna, e intensificou sua ajuda aos emigrantes marranos.
Financiou a publicação da primeira tradução da Bíblia hebraica para o espanhol, assim como outras obras em hebraico, espanhol e português, e participou intensamente dos assuntos da comunidade judaica.
No entanto, o clima de intolerância cristã na Europa se itensificava; além disso, os judeus poderosos eram muito melhor recebidos pelo sutão turco Suleiman, a quem Gracia Nasi lhe era muito grata. Em 1553 transladou-se com sua família e fortuna para Constantinopla, capital do Império Otomano.. As comunidades judaica e marrana da cidade lhe fizeram uma majestosa recepção, pois para esses havia se tornado uma lenda.
Estabeleceu-se em uma imponente mansão nos subúrbios, onde cebrava luxuosas festas, desenvolvia uma ampla atividade beneficente e oferecia comidas grátis a 80 pobres diariamente. O comércio de lá, grãos, especiarias e textil no Império turco prosperou tal como havia acontecido na Europa cristã e assim conseguiu continuar suas boas obras como patrona de sábios, academias e sinagogas em Cosntantinopla, Salônica e outros lugares.
Uma das primeiras promessas que cumpriu em Turquia foi a que tinha feito a seu falecido marido: enterrá-lo na Terra de israel. Como a Palestina se encontrava sob o domínio otomano, conseguiu que os restos mortais de seu esposo fossem transportados secretamente de Lisboa e enterrados de novo ao pé do Monte das Oliveiras.
Em 1554, a inquisição alcançou o porto italiano de Ancona, um centro de comércio internacional. Dezenas de marranos, muitos deles mercadores e alguns agentes ou amigos pessoais da família Nais, foram detidos e torturados. Com a intervenção do sultão, Dona Gracia conseguiu que alguns deles fossem libertados por serem súditos turcos, mas a maioria permaneceu encarcerada até confessarem seu erro. Vinte e quatro prisioneiros que se recusaram a renegar sua fé morreram na fogueira.
Como represália, Dona Gracia intercedeu por um boicote geral do porto de Ancona por parte da comunidade financeira judaica do Império Otomano, sob pena de excomunhão.

Mesmo que muitos rabinos e líderes de comunidade apoiaram sua proposta, esta foi rechaçada devido a oposição de Josué Soncino, rabino da Grande Sinagoga de Constantinopla.
Dona Gracia Nasi dirigiu então suas energias a Terra Santa. Havendo passado sua vida transladando de um refúgio inseguro a outro, resolveu iniciar a reconstrução do verdadeiro lugar do povo judeu.
Em 1560, com a ajuda de seu sobrinho José, propos as autoridades de Constantinopla que lhe fosse vendida a conseção de Tiberíades e sete aldéias adjacentes em troca da receita de impostos além de uma cota anual de mil ducanos.
Don José Nasi foi nomeado governador de Tiberíades; seu auxiliar José ibn Adret foi enviado a supervisar a reconstrução da cidade e seus muros. Dona Gracia estabeleceu uma academia que atraiu eruditos e construiu um palacio para si mesma cerca das fontes térmicas de Tiberíades.
José importou ovelhas e amoureiras a fim de produzir lã e criar XXXXX(gusanos) de sêda e assim estabelecer a base para uma rentável indústria textil na cidade.
Intensamente envolvida em seus numerosos intereses e ocupações, Dona Gracia postergou sua mudança de Cosntantinopla a Tiberíades.
Quando faleceu em 1569 com 59 anos de idade, sua morte causou uma onda de pesar nas comunidades judaicas da Europa e do Império Otomano.
Sua memória está perpetuada em publicações eruditas e foi louvada nas sinagogas, sendo comparada com as grandes heroínas bíblicas. Dona Gracia Nasi "a coroa da glória das mulheres virtuosas" e "o coração de seu povo", é lembrada como a mulher judia mais
destacada de sua geração.

Extraído: “Entre Mujeres –Ajdut”

AMSDJU

sábado, 7 de janeiro de 2012