Passando pela Turquia oriental encontra o Rabi José (Joseph) Taytazak. Este último, tinha-se ali refugiado, fugido de Espanha, na cidade muçulmana de Salónica e aí cumpriu as funções de Rabi-Mor. Salónica era, depois de Safed, o maior centro de cultura judaica da época. Tal como se diz na Enciclopédia Judaica: “Uma nova era para a comunidade começou com a conquista de Salónica por Amurath (1 de Maio de 1430). Aos judeus foram garantidos direitos iguais aos dos outros habitantes não-Muçulmanos, e os seus rabinos foram colocados no mesmo patamar que os líderes espirituais da Igreja Grega. A feliz condição da comunidade judaica salónica nesta época é descrita por Isaac ?arfati numa carta dirigida aos judeus da Alemanha, a quem recomenda que emigrem para a Turquia.” (Ver Enciclopédia Judaica, entrada “Salónica”). Também em Salónica esteve o nosso Amatus Lusitanus, refugiado de Portugal e de Itália, onde foi médico do Papa Julius III.
SHEMEN ZAIT - SALONIKA - DIOGO PIRES
Voltando a Molco, na sua passagem por Adrianopole conhece José (Joseph) Caro. Segundo a tradição, tanto Taytazak como Caro foram favorecidos com um Maggid depois da visita de Molco.O nosso compatriota, Salomão Molco, passou ainda por Safed, onde, tal como nos outros locais por onde passou, deixou forte impressão. Misteriosamente, regressa a Roma, a “cidade iníqua”, onde é aclamado por prever com exactidão a cheia do Tibre (a 8 de Outubro de 1530). Ele e Reubeni conversam com o cruel Carlos V em Ratisbona. Ambos foram presos e levados para Itália. Molco foi condenado à morte, considerado renegado da fé católica, levado para Mântua.
SEFER HA MEFOAR " DIOGO PIRES"
Com as chamas lentas já a arder, ainda perguntaram se ele queria reintegrar a fé católica em troca da sua vida. Molco morreu judeu.A morte deste cabalista e misterioso português causou um choque tremendo em toda a comunidade judaica. Em Safed dizia-se que por lá aparecia Molco todos os fins de tarde de Sexta-feira, entoando a benção do Kiddush sobre um copo de vinho.Uma nota muito interessante para portugueses interessados nos seus: ainda em 1923, a comunidade judaica de Praga tinha em sua posse uma capa de seda preta e uma bandeira de seda preta que pertenceram ao nosso Salomão Molco. Na bandeira estavam bordados, em seda amarela, vinte e três versículos da Bíblia hebraica, dezanove dos quais retirados dos Salmos.Depois da morte de Molco, o maggid de Caro começou a aparecer com mais frequência.
Bibliografia:para além de outras referências bibliográficas, é bastante interessante a peça de Edmond Fleg: Le Juif du Pape.
Publicado em Joseph Caro, Judaísmo, Solomon Molco