O Beit Yossef & Shulchan Aruch
A maior contribuição do Rabi Caro ao judaísmo foram os tesouros escritos que
deixou. Seu primeiro trabalho de destaque, intitulado Kessef Mishná, constituía
uma fonte de referências para a extraordinária obra de Maimônides sobre a Lei
Judaica - o Mishnê Torá. Aos 34 anos, idade prematura face à responsabilidade
da tarefa, Rabi Yossef Caro começou a escrever seu trabalho monumental - Beit
Yossef, a Casa de Yossef. Tamanho é o respeito por esta obra em meio ao povo
judeu, que à pessoa dele comumente se referem como o "Beit Yossef" ou
HaMechaber1 - O Autor.
A obra Beit Yossef é o Shulchan Aruch em forma não abreviada, isto é, em sua
totalidade. Trata-se de um completíssimo comentário sobre a obra de Rabi Yaacov
ben Asher - Arba Turim, os Quatro Pilares - um verdadeiro compêndio de
sentenças e pareceres jurídicos sobre a Halachá. O Arba Turim (conhecido como
Tur) é uma obra de quatro volumes. O primeiro deles, intitulado Orach Chaim,
contém as leis que regem o nosso cotidiano: os mandamentos sobre as orações, o
uso dos tefilin, o Shabat, as festas sagradas, entre outros. O segundo volume,
Yorê De'á, versa sobre as leis de cashrut e pureza ritual. O terceiro, Even
Ha'Ezer, traz as leis do casamento e divórcio e similares. O último volume,
Choshen Mishpat, contém as leis judiciais, que envolvem testemunhas, juízes,
propriedade, heranças e outros.
Rabi Yossef Caro apontou nesta obra, o Tur, de onde as normas que contém haviam
sido retiradas. Começou por citar o Talmud, a seguir mostrou como os primeiros
comentários interpretavam as passagens talmúdicas. Era um traço típico do
"Autor" reunir todas as várias opiniões de forma clara e concisa,
tornando compreensível a qualquer um as razões que embasavam os pareceres
ditados por sua mente iluminada.
O propósito do Rabi Caro ao escrever um código definitivo sobre nossa Lei era
unificar o povo judeu através da solução de disputas e ambigüidades quanto ao
entendimento e à aplicação dos Mandamentos Divinos expressos na Torá. Foram
necessários vinte anos para que ele terminasse a obra Beit Yossef. Ele o fez em
Tzfat e a mesma foi aceita em praticamente todo o mundo judaico como referência
suprema sobre a Halachá - a Lei da Torá. Em Beit Yossef, Rabi Caro reuniu as
decisões das maiores autoridades haláchicas existentes até a época. Ele opinava
e sentenciava calcando-se em opiniões discordantes, estabelecendo um consenso
entre os pontos de vista de três renomadíssimas autoridades no assunto:
Maimônides (o Rambam), Rabi Yitzhak Alfassi (o Rif) e Rabenu Asher (o Rosh).
Quando havia discordância entre as opiniões dos três sábios, ele próprio, Rabi
Yossef Caro, sentenciava de acordo com o parecer da maioria. Em caso de um assunto
sobre o qual nenhuma das três autoridades tivesse proferido julgamento, Rabi
Caro seguia o parecer majoritário entre Rabi Moshe ben Nachman (Nachmânides),
Rabi Shlomo ben Aderet (o Rashba) e Rabenu Nissim (o Ran).
O Beit Yossef foi publicado no ano de 1542, mas Rabi Caro continuou a editá-lo
e refiná-lo durante os 12 anos seguintes. Acabou por publicar uma segunda
edição da obra, incluindo o Tur. Sua Enciclopédia foi publicada em diversos
volumes, com os mesmos títulos usados por Rabi Yaacov ben Asher.
A obra Beit Yossef era longa e rica em detalhes, a ponto de ser de difícil
alcance para o homem comum. O mundo judaico carecia de um trabalho simples e de
fácil absorção, no qual as profundezas de nossa Lei fossem apresentadas de uma
forma que todos pudessem estudá-las e as compreender. Por essa razão, anos
depois, o Rabi Yossef Caro pôs-se a escrever uma versão concisa e abreviada do
Beit Yossef, que, quando pronta, continha as decisões finais da Halachá, sem no
entanto se deter nos incontáveis e diferentes pareceres e sem enumerar as
fontes que embasavam a sua própria sentença. "O Autor" a chamou de
Shulchan Aruch - "Mesa Posta", pois a obra continha todas as leis
esmiuçadas, como se estivessem dispostas sobre uma mesa, diante dos olhos de
qualquer judeu, de modo claro e objetivo.
Rabi Yossef Caro calcava suas determinações, via de regra, sobre os costumes e
a opinião dos grandes Sábios sefarditas. O líder da comunidade asquenazita, à
época, Rabi Moshe Isserlis, o Ramá, não concordava com todas as decisões
jurídicas ditadas pelo Beit Yossef. Assim sendo, ele próprio editou um Código
de Lei Judaica para as comunidades asquenazitas - e o fez anotando todas as
passagens em que o Shulchan Aruch ia contra os costumes e pareceres dos sábios
oriundos das kehilot de Asquenaz. Tal controvérsia serviu apenas para fazer
correr, ainda mais longe, a fama e a ampla utilização do trabalho do Rabi Caro,
que se tornara o estatuto haláchico, nos aspectos em que o Ramá não discordava,
até para as comunidades asquenazitas. Finalmente, em 1578, os pareceres do Ramá
foram adicionados ao Shulchan Aruch, em uma obra publicada em Cracóvia, na
Polônia. Tornava-se, assim, ainda que editado, o Código Oficial de Lei Judaica
de todas as comunidades judaicas asquenazitas, no mundo. E, com isso, o Rabi
Yossef Caro deixava sua marca gravada em sua geração e em todas as gerações de
judeus que se seguiram, sendo sua obra aceita, por nosso povo, como Dvar Hashem
- a Palavra de D'us.
Rabbi Yossef Caro, The Master, Rabbi Moshe Miller, Kabbala Online.Org
Rabbi Yosef Caro of Zefat - Ascent of Safed - Your Jewish Home in the City of
Kabbalah
Rabbi Yosef Caro, Sephardic Rabbis Impact Halachah, Online Journal
Beit Yossef , Amsdju